Produção baseada em história real, vivida pelo escritor austro-húngaro-tchecoslovaco Franz Kafka, resgata valores e reflete sentimentos como amor, amizade, confiança, perda e entendimento
22/09/202311:11- atualizado às 08:37 em 18/10/2023
Adaptado pela primeira vez para os palcos, o musical infantil Kafka e a Boneca, baseado em fatos vividos pelo autor Franz Kafka, chega para uma temporada de apresentações no Teatro do SESI Rio Preto. Produzido pela Marcenaria de Cultura, Rega Ínicio Produções e com realização do SESI-SP, a peça tem a direção de Marllos Silva, responsável também pelo roteiro, e a direção musical de Daniel Rocha, que assina canções e arranjos dessa história que completa 100 anos em 2023.
As sessões acontecem nos dias 6, 7, 8, 20, 21, 22, 28 e 29 de outubro, sextas, sábados e domingos, às 15h. Com entrada gratuita, os ingressos podem ser reservados pela plataforma Meu Sesi.
Embora muito conhecido por suas obras modernistas, pouco se sabe acerca da história de Kafka com a garotinha que o fez redescobrir sentidos e motivações para voltar a escrever, dando mais cor aos meses que antecederam sua morte. Foi durante um passeio pelo parque de Steglitz, em Berlim, junto de sua companheira Dora, que ele se viu tocado pela tristeza de uma criança que havia perdido sua boneca preferida. As lágrimas sentidas da pequena Lia Hillel, como é chamada na peça, acompanhadas de seus questionamentos inconformados, o fizeram pensar em formas de ajudá-la a superar sentimentos que lhe eram familiares, como a solidão e a melancolia.
Lançando mão de recursos lúdicos, criatividade e imaginação, Kafka, vivido por Marcos Lanza, se transforma no “carteiro de bonecas”, e passa a escrever cartas para Lia, papel em que as atrizes mirins Bibi Valverde e Isa Camargo se alternam. Na tentativa de acalmá-la, ele inventa a história de que sua boneca, Mariele, viajara pelo mundo em busca de sua própria jornada e, a cada correspondência, uma aventura diferente por lugares como Itália, China e deserto do Saara, é detalhada. Tudo vai bem até que se vê diante de outro desafio: entender como finalizar essa história sem gerar novas frustrações.
Para o produtor e criativo Marllos Silva, que teve a ideia de fazer o espetáculo há alguns anos ao ler o livro para a filha, todo o projeto é pautado em um grande cuidado com a vida e obra do artista. Embora baseada em um acontecimento real, a história não possui vestígios históricos, o que, em meio a muitas pesquisas, lhe permitiu uma construção mais aberta em torno dos fatos e personagens. Em uma delicada mescla de realidade e ficção, é possível identificar falas de Kafka, ditas pelo próprio em algum momento da vida, e vê-lo em uma versão mais "desconstruída" daquela conhecida.
“A grande diferença das demais obras de Kafka para esta é que as demais são escritas sobre o olhar dele para o mundo, o universo ‘Kafkaniano’. Já este espetáculo fala sobre ele enquanto ser humano. Para quem conhece sua história e a forma como ele se relacionou com a família, vê neste recorte de vida um outro homem, completamente diferente do autor que o mundo conheceu. De repente, o homem avesso a relações e sem filhos, é visto completamente entregue a uma relação com uma criança”, conta Silva.
As muitas camadas que giram em torno dessa relação ganham ainda mais força e sentido com a ajuda da trilha sonora, com letras divididas entre Silva e o diretor musical e arranjador Daniel Rocha, que revelou ter usado a cultura Klezmer, gênero de música não-litúrgica judaica, como fonte.
O SESI-SP é um grande fomentador de produções originais, apostando em novas visões artísticas por meio de projetos selecionados, anualmente, via Edital de Chamamento, assim como com a montagem inédita Kafka e a boneca, uma obra original, voltada para o público infantil, que aborda relações humanas, o mundo da imaginação e a forma com a qual lidar com a perda e o luto.
A instituição desempenha uma fundamental mediação entre público e obra, proporcionando, muitas vezes, a primeira experiência com o teatro, aos mais diversos públicos, enquanto espaço de formação e usufruto. Escolas e grupos ocupam a plateia, com sessões exclusivas que acontecem sempre as quintas e sextas-feiras, durante o período de temporada do espetáculo. Uma atividade de lazer e sensibilidade, que reverbera no apreendimento de questões complexas, em consonância com os acontecimentos e temas discutidos na atualidade, sob a ótica lúdica e poética das crianças nas artes da cena.