As fotografias são impressas em folhas de plantas e em papel com pigmento de jenipapo
29/09/202215:20- atualizado às 15:20 em 29/09/2022
O Sesi São José do Rio inaugura, no dia 6 de outubro (quinta-feira, às 19h), a exposição com temática indígena Terra Terreno Território, da fotógrafa e artista visual Dani Sandrini. A temporada segue até o dia 3 de dezembro com visitação gratuita. A exposição conta com acessibilidade, obras com audiodescrição e peças táteis.
No evento de abertura, o público participa de bate-papo com a artista e convidados: os indígenas Tiago Nhandewa (etnia Guarani, Pagogo e mestre em Antropologia Social pela USP) e Emerson Souza (etnia Guarani, professor de Sociologia, mestre e doutorando em Antropologia Social pela USP).
As imagens foram captadas, durante o ano de 2019, em aldeias indígenas da Grande São Paulo, onde predomina a etnia Guarani, e no contexto urbano, que abriga aproximadamente 53 etnias.
Terra Terreno Território traz 70 obras em dois agrupamentos fotográficos. No primeiro a impressão é feita em papéis sensibilizados com o pigmento extraído do fruto jenipapo (o mesmo que indígenas usam nas pinturas corporais). E no segundo, diretamente em folhas de plantas (taioba, singônio, malvavisco, amora e batata doce). Os processos - chamados de antotipia e fitotipia, respectivamente - se dão artesanalmente, através da ação da luz solar, em tempos que vão de três dias a cinco semanas de exposição.
As imagens fotográficas - de tamanhos que variam entre 10x15 a 50x75cm - trazem uma temporalidade inversa à prática fotográfica vigente, da rapidez do click e da imagem virtual. “O tempo de exposição longo convida à desaceleração para observar o entorno com outro tempo e sob outra perspectiva. Como a natureza, onde tudo se transforma, esses processos produzem imagens que também se transformam com o tempo; uma referência à permanente transformação da cultura indígena, que não ficou congelada 520 anos atrás”, reflete a artista.
A delicadeza do processo orgânico traz também uma consequente fragilidade para as fotografias com a passagem do tempo. A artista explica que “dependendo da incidência de luz natural diretamente na imagem, por exemplo, pode levá-la ao apagamento”. Sandrini considera esta possibilidade como um paralelo ao apagamento histórico que a cultura indígena vem sofrendo em nosso país. Ela diz que “a proposta favorece também a discussão acerca da fotografia com seu caráter de memória e documento como algo imutável, ampliando seus contornos e podendo se vincular ao documental de forma bem mais subjetiva. A certeza é a transformação. A foto não congela o tempo. Os suportes que aqui abrigam as fotografias geram outros significados”, reflete.
Com Terra Terreno Território a fotógrafa alerta para a necessidade de compreender a cultura indígena para além dos clichês que achatam a diversidade do termo. “Aqui, a intenção é exatamente oposta: é desachatar, lembrar que muitos indígenas vivem do nosso lado e nem nos damos conta. Já se perguntaram o porquê de essa história ter sido apagada?”, comenta Dani que, no projeto, fotografou pessoas de diversas etnias, oriundas de várias regiões do país, ora posando para um retrato ora em suas rotinas, suas atividades, seus eventos, rituais ou celebrações.
Terra Terreno Território nasceu do projeto Darueira, em 2018, contemplado no 1° Edital de Apoio à Criação e Exposição Fotográfica, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo por meio da Supervisão de Fomento às Artes. Realizado, em 2019, ganhou exposição na Biblioteca Mario de Andrade, de outubro a dezembro. Em 2020 (no formato online, devido à pandemia), a exposição passou pela Galeria Municipal de Arte, do Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes (Chapecó/SC), Cali Foto Fest (Colômbia) e Pequeno Encontro de Fotografia (Olinda/PE). Em 2021, integrou o Festival Photothings (exposição online no metrô de São Paulo; ensaio escolhido para integrar a Coleção Photothings). Em 2022, além da circulação por unidades do SESI São Paulo, foi selecionada para a Exposição Latinas en París (Fotografas Latam, Fundación Fotógrafas Latinoamericanas).
Dani Sandrini - Fotógrafa e artista visual, a paulistana Dani Sandrini desenvolve projetos documentais e artísticos, desde 2014, apesar de ser fotógrafa comercial, desde 1998. A depender do projeto e suas singularidades, sua fotografia é colocada nas telas ou papéis, mas também pode conter outros elementos que adicionam significados à imagem final, bem como camadas extras de subjetividade. Pesquisa o entrelaçamento de materiais e suportes com a imagem fotográfica e a ação do tempo sobre a mesma. Dani tem experiência em processos fotográficos alternativos e desenvolve projetos utilizando impressão por transferência, fotografia estenopeica, cianotipia, antotipia e fitotipia.
SERVIÇO
Terra Terreno Território, de Dani Sandrini
Abertura: 6 de outubro – quinta, às 19h
Bate-papo: Dani Sandrini, Tiago Nhandewa e Emerson Souza
Temporada: 7 de outubro a 3 de dezembro de 2022
Horário: terça a sábado - das 9h às 20h, exceto feriados.
Visitação gratuita. Classificação: Livre.
Acessibilidade: piso tátil, audioguia, 5 obras táteis e 10 obras com audiodescrição.
Agendamento escolar e de grupos: carla.carvalho@sesisp.org.br - terça a sexta (9h às 11h e 15h às 17h).